domingo, junho 6

O PASTOR E O PREPARO DA MENSAGEM

O PASTOR E O PREPARO DA MENSAGEM

Algum tempo atrás alguém perguntou-me se eu me dedicava somente ao ministério, ou se também trabalhava. O tom com que a pergunta foi feita deixou-me a desagradável sensação de que existem dois tipos básicos de indivíduos (pelo menos na maneira de ver do meu interlocutor): aqueles que trabalham espelhados nas mais diversas profissões e, aqueles que quase não trabalham entre os quais se incluem os pastores, os missionários, religiosos, filósofos, poetas e outras profissões semelhantes.

Afinal de contas, afirmam alguns, o que um pastor tem de fazer? Pregar uma ou duas vezes por semana, fazer algumas visitas, bater papo com as pessoas, eventualmente celebrar batismos, casamentos e funerais... Sobra bastante tempo! Ou não sobra?

Tenho descoberto que, na maioria das vezes, nos falta mais tempo do que nos sobra. No trabalho pastoral, a situação é contrária às inseguranças, oscilações e incertezas do mercado de trabalho secular, pois existe mais serviço do que pessoas dispostas a executá-lo. Nas palavras do Senhor: “... a seara é grande e os ceifeiros são poucos...”

Nos tempos idos do Seminário, ouvíamos dos professores os termos de que se devia gastar um mínimo de quatro horas até dezoito ou vinte horas apenas no preparo de uma boa mensagem. Não duvido... mas, pelo tempo de que se dispõe em uma estrutura em que por vezes o pastor é uma espécie de “joão-faz-de-tudo”, desde office-boy até administrador, passando por “tocador” de obras e construções e responsável direto pelo levantamento de fundos para a mesma, poucos são os que chegam a quatro horas no preparo de cada mensagem.

O preparo formal

A meu ver a tarefa prioritária do homem de Deus é o preparo e a entrega da mensagem. A boa mensagem exige o melhor do nosso tempo e esforço (talvez um pouco de luta contra estruturas viciadas). Poderia ser definida por algumas características fundamentais.

Fidelidade à Palavra de Deus - Isto significa que devç dizer aquilo que Deus diz. Significa pregar como Paulo afirma ter pregado aos efésios: “todo o desígnio de Deus” (At 20.27).
Isso exige de nós conhecimento bíblico, leitura constante e apaixonada do Livro dos livros, estudo do contexto histórico, geográfico e cultural em que o texto foi escrito, a fim de que nossa visão seja aberta para entender qual tenha sido a intenção original do autor ao escrevê-lo. Acima de tudo, isso exige submissão e unção do Espírito Santo, verdadeiro intérprete e ensinador das Escrituras, Jo 16.12-15.

Diz-se de Spurgeon, o grande pregador do passado, que dominicalmente subia os degraus do palanque de onde pregava, debaixo da seguinte convicção e repetindo a cada degrau: “... eu creio no Espírito Santo... eu creio no Espírito Santo... eu creio no Espírito Santo...” Falta-nos mais desta confiança no Espírito do Senhor. “Uns confiam em carros, outros em cavalos...” Creio que há mais palavra de homens do que Palavra de Deus em muito do que hoje se ouve dos nossos púlpitos e o resultado é o que se vê na vida do rebanho.

Aplicabilidade à vida dos ouvintes - Em sua visita ao Brasil, dizia-nos o Rev. Stott que o pregador deve ter a Bíblia em uma das mãos e o jornal do dia na outra. Não que ele quisesse dizer que ambos devem ter o mesmo peso. O pregador é, por excelência, um homem da Palavra. Todavia, o que desafortunadamente tem acontecido, é que muitos de nós temos a Bíblia somente como ponto de referência e pretexto de um discurso moralista e filosófico e, do jornal do dia pouco ou nada sabemos.

Se sabemos o que está acontecendo no mundo nada dizemos por temor de misturar o sagrado com o profano. O resultado é que as mensagens se tornam muitas, vezes irrelevantes: não falam às necessidades do rebanho; não se relacionam com a vida prática; não têm nada a ver com o aqui e o agora. A mesma dicotomia também se verifica, em muitos casos, na vida do rebanho: conversa religiosa no domingo e prática pagã no restante da semana. Temos a Palavra mas ela não nos tem.

Capacidade de desafiar profundamente os ouvintes à fé e à obediência.
A mensagem mal preparada conclui exatamente como começa no ar. Devemos levar os ouvintes às regiões mais altas do céu e trazê-los de volta, com os pés no chão, a um profundo sentimento de compromisso com Deus. Certamente isso envolve a compreensão do que Deus deseja para nós hoje. Creio que há três coisas que nos ajudam entender isso: estudo da Palavra, conhecimento da vida das ovelhas ( aconselhamento, visitação, conversas informais ) e a oração.
O preparo informal

Se de um lado é necessário preparar-se formalmente para pregar, gastando horas de estudo no escritório, lendo e perscrutando o que Deus quer dizer, por outro lado a mensagem nasce, cresce e amadurece no coração do homem. Como não se pode separar totalmente um artista de sua obra de arte, assim também com respeito à pregação e ao pregador.

E na vida prática que se colhem informações sobre as necessidades do rebanho. E num incidente na rua, no ônibus, no trânsito, no jornal, numa conversa com moços e senhoras da igreja que se revelam as verdadeiras e profundas ilustrações de uma mensagem, as verdadeiras e profundas ansiedades de um povo. Às vezes é andando pela rua que Deus fala aos nossos corações: “Isto é que eu quero que você diga ao meu povo no domingo”.

Neste sentido, a vida toda do pastor faz parte do preparo da mensagem. 9 verdadeiro pregador está a toda hora preparando-se para pregar.

Assim também a oração deve ter também este caráter duplo: formal quando pela iluminação do Espírito ao estudar o texto bíblico; informal - quando, mergulhado na realidade de Deus que rege todas as coisas, eu me vejo submerso em um “espírito de oração” em todas as circunstâncias da vida.

No preparo informal se incluem todas as outras informações que o Espírito Santo permite à minha mente e coração: a leitura de bons livros, as horas devocionais despreocupadas no preparo de mensagens, as informações de cunho geral como notícias políticas, econômicas, etc. No preparo formal nós lemos a Bíblia à luz das realidades da vida.

No preparo informal lemos as realidades da vida à luz da Bíblia. Tanto um como o outro é necessário. A.W. Tozer dizia com muita propriedade: “Profeta é alguém que conhece a sua época e sabe o que Deus está procurando dizer ao povo de sua época.

O que Deus diz à sua igreja em algum dado período depende completamente da condição moral e religiosa desta e da necessidade espiritual da hora.
Os líderes que continuam a expor mecanicamente as Escrituras, sem considerar a situação religiosa corrente, não são melhores do que os escribas e os intérpretes da lei do tempo de Jesus, que papagueavam fielmente a lei, sem a mais remota noção do que ocorria espiritualmente em torno deles. Eruditos podem interpretar o passado; são necessários profetas para interpretar o presente”.

O preparo pessoal

Visto isso, fica apenas por dizer o que todos já sabemos, isto é, que o profeta se constitui em maior pregação do que a própria profecia, ou como dir-se-ia em outras palavras “não consigo ouvi-lo, sua vida fala mais alto do que suas palavras”. Talvez o maior desafio para todos nós, pregadores ou não, seja o desafio da coerência. Não conheço mal mais terrível do que a inconsistência ou incoerência que se alojanos nossos corações. E esta incoerência. que trouxe aos lábios de Jesus expressões tais como “hipócritas, sepulcros caiados, raça de víboras”.

Não conheço maior malefício ao rebanho de Deus do que a vida incoerente de muitos pastores que “pregam o que não vivem, e vivem o que jamais poderiam pregar”. Reconheço que nenhum de nós é totalmente coerente, mas não há dúvida de que devemos caminhar mais decididamente em direção à santidade.

Paulo desafia os líderes da igreja de Éfeso com estas palavras preciosas: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispo, para pastoreardes a igreja de Deus, qual Ele comprou com seu próprio sangue”, At 20.28. Chamo a atenção para o que foi grifado:

“Atendei por vós...” Todos conhecemos exemplos tristes de pessoas que foram ávidas e célebres em pastorear as demais, enquanto perdiam a própria reputação, não sabendo sequer apascentarem-se a si mesmas.
Creio firmemente que o nosso preparo espiritual deve incluir pela ordem a nossa vida pessoal, a nossa vida conjugal, a nossa vida paternal e, só então a nossa vida pastoral. Ouvi certa vez de um amado companheiro de ministério a seguinte frase: “Com relação à nossa luta contra o pecado; aprendi a ser extremamente misericordioso para com os demais, e cada dia mais rígido para comigo mesmo”.
Infelizmente nem todos seguem esta mesma regra e vemos muita gente que conseguem ser rígida e feroz para com todos e extremamente flácida para com seus próprios pecados.
Se queremos um ministério eficiente, uma pregação eficaz - Deus nos ajude e tenha misericórdia de nós — precisamos de homens sérios e coerentes no ministério pastoral.

Termino com as sábias palavras de Tozer, arauto da vida de santificação:
“Enfim, a obra do ministério é, em toda linha, demasiado difícil para qualquer homem. Ele é remetido a Deus para obter sabedoria. Ele deve buscar a mente de Cristo e pôr sua confiança no Espírito Santo para obter poder espiritual e acuidade mental à altura de sua tarefa”.
Que assim nos ajude o Senhor! Amém

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus (auxiliar)
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

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